O TÉCNICO ESPORTIVO
Compartilhando conhecimento
Por Peterson Bristotte
Tenho aprendido que a máxima "O conhecimento liberta" se apresenta como verdadeira à medida que se estuda, se aprofunda, se gera e se transmite conhecimento. Tento vivenciar essa realidade diariamente com minhas atletas, minha comissão técnica e meus colegas de trabalho. Estamos estudando permanentemente.
Em minha última aventura, como gosto de chamar, tive contato com a tese de doutorado de um grande querido, o Prof. Dr. Hermes Ferreira Balbino, que dispensa apresentações. Doutor Hermes foi meu professor na graduação e desde então, mesmo que sem saber, tem se tornado um de meus "gurus". Em sua tese, Dr. Hermes trata das múltiplas competências do técnico nos jogos esportivos coletivos e teve como universo de pesquisa o ambiente do esporte profissional. Lendo sua tese, para minha surpresa, em suas considerações finais, me pareceu que as competências de um técnico esportivo não transitam em um universo muito amplo seja qual for o ambiente esportivo, da iniciação ao alto rendimento, do amadorismo (em seu sentido não pejorativo) ao profissionalismo, de crianças a adultos, do lazer à profissão.
Abaixo trouxe e compartilho com todos, especialmente com meus colegas técnicos e professores, algumas palavras (na íntegra) do Dr. Hermes, respaldado pela chancela da Ciência. Suas reflexões são muito parecidas com as que tenho feito ao longo desses meus poucos 10 anos como técnico de voleibol. Espero que possa ajudar a todos nós a refletirmos um pouco mais acerca da abrangência de nossa missão.
“(...) Com o tempo fui
construindo a imagem de um técnico que agregasse todos os conhecimentos
necessários ao exercício de sua função e que tivesse consigo recursos,
princípios e a visão que os entrevistados demonstraram possuir. Aprendi com
eles que o técnico esportivo:
- Têm uma meta a ser atingida,
sabe aonde quer chegar;
- Tem estratégias para resolver
os problemas, mais do que uma solução definitiva para tudo;
- Resolve com os atletas e a
comissão técnica os problemas que são do grupo. Busca soluções e não culpados;
- Valoriza o conjunto de
informações das várias disciplinas que compõem as Ciências do Esporte para
elaborar estratégias, ou seja, o treinamento é um processo sujeito a adaptações
constantes, é flexível;
- Busca tornar as relações do
ambiente de trabalho produtivas e construtivas, investe em relações que têm
como resultado a harmonia do grupo de trabalho;
- Têm como base estrutural de sua
prática a premissa de que o Esporte educa;
- Estimula o desempenho
individual para compor a coletividade, ou seja, trabalha com dois focos que
aparentemente são antônimos, mas essencialmente são sinérgicos;
- Os objetivos do técnico, do
atleta e do sistema se coadunam;
- Têm habilidade em se comunicar,
em se fazer entender, é eloqüente, explica suas idéias com clareza, e convence
as pessoas de que aquilo as levará ao desempenho máximo;
- Estimula o desenvolvimento do
potencial de competências, ao invés de impor e exigir o cumprimento de tarefas;
- Sabe que o treinamento existe
para o atleta e não o atleta para o treinamento;
- Tem consciência de que é o
líder do processo e traça estratégias para que a liderança leve o grupo a
atingir resultados desejados;
- Um dos valores mais
considerados em todas as relações que estabelece em seu grupo de trabalho,
atletas, membros da comissão técnica e outros é a confiança, em significado de
“fiar com”. É tecer o mesmo tecido, estar em sinergia para construir algo
juntos, em relação mútua que tem a base de outro valor, o respeito; um
reconhece e valida o que o outro faz.
Fica a constatação de que o
técnico esportivo do hoje precisa ter um conjunto de competências para dirigir
processos de treinamento. Só o conhecimento empírico da modalidade não basta.
Esses treinadores de sucesso são pedagogicamente qualificados para tal e demonstram
que o treinamento esportivo é um processo de relacionamentos, de gestão de
pessoas.
O significado humano e educativo
do esporte, que muitos julgaram não existir, torna-se claro e perceptível
quando cada elemento que participa de seu contexto avança nas suas capacidades
e habilidades, transcendendo o físico, o lógico e o previsível. O papel do
treinador ou técnico esportivo foco de nossas investigações atinge a dimensão
de influenciar profundamente comportamentos, atitudes, princípios e valores dos
atletas, como Bento (1991) afirma. Na linha do tempo que o técnico esportivo
percorre, o presente recorre ao passado para reconhecer e enxergar a evolução
visionária que novas abordagens trazem para o fenômeno Esporte. Podemos, agora,
começar o exercício do futuro”.
Dando todo crédito ao autor:
Hermes Ferreira Balbino.
Pedagogia do treinamento: método, procedimentos pedagógicos e as múltiplas
competências do técnico nos jogos desportivos coletivos. 2005. Tese (Doutorado em Educação Física ),
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.
Dr. Hermes Balbino possui graduação em Educação Física (1987) e Psicologia (2009) pela Universidade Metodista de Piracicaba, mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (2001) e doutorado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (2005), área de concentração Ciências do Esporte. Tem experiência acadêmica e aplicada na área de Educação Física e Treinamento Esportivo. Atua principalmente nos seguintes temas: Esporte, Pedagogia, Psicologia, Excelência Esportiva, Formação Esportiva, Jogos Esportivos Coletivos, Basquetebol. Atualmente é professor do Programa de Mestrado em Educação Física da Universidade Metodista de Piracicaba, vinculado à área de concentração Movimento Humano, Educação e Cultura, nas linhas de pesquisa Movimento Humano e Esporte, e Movimento Humano, Lazer e Educação. (Currículo Lattes: lattes.cnpq.br).
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